Às vésperas do encerramento do 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), lideranças do movimento estudantil ouvidas pela Agência Brasil reafirmaram a importância do evento, que classificam como “o maior encontro político da juventude brasileira”.
“Acreditamos que, este ano, o congresso tem sido vitorioso. Seja pela programação política que contou com convidadas e convidados como o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, seja pela forte presença institucional, incluindo a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, disse a presidente da UNE, a amazonense Bruna Brelaz, lembrando que a última vez que um chefe do Poder Executivo brasileiro compareceu ao evento foi em 2009, quando o próprio Lula prestigiou o encontro.
Segundo a UNE, cerca de 10 mil estudantes de todo o país estão em Brasília, desde a última quarta-feira (12) para o encontro. Após uma extensa agenda de debates, atividades culturais e atos políticos – a exemplo do protesto de sexta-feira (14), em frente ao Banco Central, alvo de críticas por manter alta a taxa básicas de juros – os estudantes participam, hoje (15) e amanhã (16), da plenária em que serão votadas as principais propostas de ação da entidade.
Neste domingo, também serão escolhidas a futura presidência e diretoria da entidade para os próximos dois anos.
“Temos dividido nossa pauta entre as demandas que consideramos emergenciais e aquelas estruturantes”, explicou Bruna Brelaz, destacando que o congresso entrou hoje em sua fase “mais bonita”.
“É o momento de maior mobilização, o mais tensionado, já que há diferentes opiniões e expectativas, o que representa a diversidade do movimento estudantil do país e a capacidade da UNE de representar esta multiplicidade.”
Para o gaúcho Tiago Morbach, da União da Juventude Socialista (UJS), a presença de tantos estudantes de diferentes regiões do país confirma a capilaridade da UNE, que completa 86 anos este ano.
“O congresso cumpre um papel muito importante, transmitindo uma mensagem do movimento estudantil, da juventude brasileira, que está mobilizada para construir as transformações de que o Brasil precisa neste novo momento político”, disse Morbach, reforçando a opinião de Bruna Brelaz sobre a diversidade de propostas e a intensidade dos debates.
“É durante a plenária final do congresso que aflora a democracia que caracteriza a UNE. A quantidade de opiniões deve ser vista com otimismo e respeito”.
Já a vice-presidente da UNE, a carioca Júlia Aguiar, ressaltou os desafios que a entidade e o movimento estudantil como um todo enfrentaram ao longo dos últimos anos para dimensionar a importância do atual congresso.
“Devido à pandemia, fomos impedidos de realizar o encontro presencialmente por quatro anos. Mesmo assim, não só voltamos a organizar um evento gigante, como construímos o processo de escolha da futura diretoria. Tudo isso é de fundamental importância para a renovação do movimento estudantil. Muitos estudantes estão participando de seu primeiro encontro em um contexto político que nós, que defendemos uma educação mais inclusiva e democrática, consideramos melhor. Até porque, no último período, obtivemos uma vitória fundamental: a derrota do neofascismo e do bolsonarismo. Ainda que saibamos que a extrema-direita siga organizada”, comentou Júlia, que integra o Levante Popular da Juventude, próximo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a outras organizações sociais do campo.
Prioridades
Ao comparecer ao Congresso da UNE, o presidente Lula recebeu de representantes do movimento um documento com algumas das principais reivindicações estudantis para os próximos anos. Nas palavras do presidente, a pauta é "longa, árdua e apimentada".
Segundo a presidente da entidade, Bruna Brelaz, as propostas - incluindo algumas que seguem em debate - estão divididas entre as consideradas emergenciais (como a transformação do Programa Nacional de Assistência Estudantil em lei nacional) e as estruturantes (a exemplo da criação da Universidade da Integração da Amazônia, com investimentos massivos em ciência e tecnologia). Além disso, durante a plenária, cada entidade defende as ações que considera prioritárias, conforme explicou Tiago Morbach.
“Nós, da UJS, por exemplo, buscamos que seja aprovada a proposição de uma reforma universitária que permita às instituições de ensino assumir um novo papel no desenvolvimento nacional, participando ativamente do enfrentamento à fome e à miséria. E que a UNE intensifique seu papel de mobilizadora social”, disse Morbach antes de comentar a reação presidencial ao documento preliminar:
"Eu, de fato, considero a pauta que entregamos ao Lula como, digamos, bem temperada. Ficamos muito felizes por o presidente ter reconhecido isso, pois pretendemos abrir um canal de diálogos com o governo a fim de que as reivindicações dos estudantes sejam levadas adiante. Não esperamos que elas sejam tiradas do papel sem que os estudantes estejam mobilizados e pressionando os governos, o Congresso Nacional e até mesmo o Banco Central".
Já Júlia Aguiar elencou algumas das pautas defendidas pelo Levante Popular da Juventude no congresso:
“Nossa expectativa é de que, além de seguir mobilizando os estudantes em todo o país, possamos barrar retrocessos. Que revoguemos a Reforma do Ensino Médio e consigamos imprimir, na atual gestão federal, um projeto de educação que leve em consideração o fruto de nossos debates, fortalecendo as entidades de estudantes, que foram muito fragilizadas no último período”.
Edição: Denise Griesinger