'Ninguém dorme com medo que aconteça a mesma coisa com a gente', diz vizinho de prédio que desabou em Recife

Blog do  Amaury Alencar
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Prédio no Conjunto Beira-Mar, onde um edifício desabou no bairro do Janga, em Paulista, na Grande Recife. — Foto: Reprodução/TV Globo

Prédio no Conjunto Beira-Mar, onde um edifício desabou no bairro do Janga, em Paulista, na Grande Recife. — Foto: Reprodução/TV Globo


Moradores do Conjunto Beira-Mar, em Paulista, no Grande Recife, querem se mudar o quanto antes por causa do medo de que novos desastres aconteçam no local. Foi nesse habitacional do bairro do Janga que parte de um prédio desabou na sexta-feira (7). A tragédia deixou 14 mortos e 7 feridos.

"Não estou dormindo direito, nem eu nem minha família. Porque já aconteceu isso aí; e a gente está com medo [de] que aconteça a mesma coisa com a gente", afirmou à TV Globo o supervisor de segurança Eudo Luna, que mora há duas décadas no local.

Três anos atrás, uma fissura começou a aparecer na cozinha do apartamento de Eudo. Com o tempo, ela cresceu até se estender de cima a baixo, pegando toda a parede. Ele, que mora no imóvel com a esposa e o filho, está angustiado.

"Eu quero me retirar, mas não tenho condições. Eu quero que venham aqui olhar para a gente. Para a gente não ser um número. Antes que aconteça o que aconteceu com nossos amigos", disse Eudo.

Fissura na parede do apartamento de Eudo Luna, no Conjunto Habitacional Beira-Mar. — Foto: Reprodução/TV Globo

Fissura na parede do apartamento de Eudo Luna, no Conjunto Habitacional Beira-Mar. — Foto: Reprodução/TV Globo

O Conjunto Beira-Mar tem 1.711 apartamentos, divididos em 37 prédios, dos quais 29 são do tipo "caixão", como era o bloco D7, que desabou parcialmente. Os outros 8 têm estrutura de pilotis, como se chama o conjunto de colunas que sustentam a construção, deixando o pavimento térreo livre.

Desde sexta-feira (7), quando aconteceu o desabamento (veja vídeo abaixo)seis prédios do tipo "caixão" foram interditados pela Defesa Civil de Paulista no Conjunto Beira-Mar. O edifício onde Eudo mora com a família não foi um deles.

Esses imóveis desocupados têm quatro andares, cada. Os apartamentos são idênticos aos que caíram: 60 metros quadrados divididos entre sala, cozinha, dois quartos e banheiro.

A aposentada Maria de Lourdes da Silva morou no Conjunto Beira-Mar por 36 anos. Ela contou que, mesmo com a insistência das filhas para que se mudasse, preferia ficar no habitacional por ser apegada ao imóvel.


Após o desabamento, porém, Maria decidiu se mudar. "Agora não tem mais jeito, agora tem que ir. É uma dor que todo mundo sente", afirmou.


No corredor da casa dela, há uma parede fofa por causa de uma infiltração. "Eu tinha medo[de] que ele caísse", declarou a aposentada.

Medo em Olinda também

Infiltração em prédio em Olinda, na Grande Recife, que está ocupado, apesar do risco de desabamento. — Foto: Reprodução/TV Globo

Infiltração em prédio em Olinda, na Grande Recife, que está ocupado, apesar do risco de desabamento. — Foto: Reprodução/TV Globo

As pessoas que vivem em um edifício localizado em Olinda também convivem com o medo de desastres. O imóvel foi condenado pelo risco de desabamento e desocupado pelos donos, mas acabou sendo ocupado novamente por pessoas que não têm onde morar.

 O autônomo José Carlos da Silva contou que mora no local porque não tem condições de pagar aluguel em outra moradia. No prédio, há rachaduras, infiltração e lodo. "Ninguém dorme aqui. Eu fico a noite todinha no cafezinho, no cigarrinho. Vou dormir mais de manhã", afirmou.

A cabeleireira Ana Cláudia Portela mora no local há 12 anos. "Aqui eu tenho meu salãozinho, para ganhar um por fora, quando tem cliente. Porque tem cliente que nem vem, com medo [de] que o prédio caia na cabeça", declarou.


O que dizem as prefeituras


A prefeitura de Paulista afirmou que iniciou uma série de vistorias desde o mês de abril. Foram visitados 32 prédios, dos quais dois foram interditados antes do desabamento da sexta-feira (7).

A prefeitura de Olinda informou que monitora os prédios condenados e que, desde 2020, demoliu 11 edifícios que apresentavam risco de desabamento.


                                                       G1 PE 

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