A família da influenciadora digital Maria Sofia Valim começou uma campanha para conscientização da doação de órgãos no Brasil. As imagens foram publicadas, nesta quarta-feira (10), no Instagram.
Maria Sofia estava com complicações na saúde e precisava de um transplante de fígado. Passou pelo procedimento em 7 de dezembro e faleceu, dois dias depois.
A jovem é filha do prefeito de Caucaia Vitor Valim e de Gaída Dias, empresária, comunicadora e sócia-proprietária do Grupo Cidade de Comunicação. Sofia estudava direito e acumulava mais de 500 mil seguidores. Ela comentava sobre viagens, lazer e moda. Chegou a realizar eventos beneficentes com venda de roupas.
Segundo Gaída Dias, mãe de Maria Sofia, um dos maiores consolos da hora da morte da filha foi saber que ela poderia doar os órgãos.
“Quatro pessoas receberam órgãos dela e isso me dá a certeza de que podemos fazer algo pelas pessoas, mesmo quando nossos entes queridos partem para vida eterna. Através dos transplantes pode-se ajudar diversas pessoas que estão em situação de doença e encontram-se em um angustiante estado de espera por um órgão ou tecido essencial para o funcionamento do seu corpo. Eu gostaria de abraçar essas pessoas que receberam os órgãos de Sofia, mas devido às regras da doação não sabemos quem são. Só em saber que fomos motivo de esperança e ajudamos alguém, já me deixa em paz.”
A comunicadora diz que certa vez ela e Sofia conversaram sobre falecimento de seu pai Miguel Dias, e a filha disse que queria ser cremada e poderia doar órgãos.
“Maria Sofia era um ser humano diferenciado. Se alguém gostasse do que ela estava usando, ela doava. E, algumas vezes, ela pediu para doar o tempo dela com crianças carentes. Ela fez algumas ações com o Iprede e o projeto Tamu Junto”, lembra Gaída.
No Brasil, a autorização para a doação de órgãos é concedida pelos familiares. Dessa forma, para que a vontade em doar os órgãos após a morte seja atendida, é importante avisar a sua família sobre essa decisão e pedir que ela atenda ao desejo. A doação de órgãos pode ocorrer após a morte encefálica ou em vida. Neste último caso, é possível doar um dos rins, parte do fígado e um lobo (parte) dos pulmões para um cônjuge ou parente até o quarto grau e com a devida compatibilidade. Também é possível doar órgãos para alguém que não seja da família. Porém, nesse caso, além da devida compatibilidade, é necessária a autorização judicial, e comunicação ao Ministério Público e ao comitê de ética do hospital.
O Brasil é, hoje, o País com a maior taxa de aceitação familiar para doação de órgãos da América Latina. Em 2014, 58% das famílias brasileiras optaram por doar os órgãos dos seus familiares, enquanto, em 2013, o índice era de 56%. Esses percentuais são de 51% na Argentina, 47% no Uruguai e 48% no Chile. Atualmente, 95% dos procedimentos são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tornando o país referência mundial no campo dos transplantes e maior sistema público do Mundo.
Apesar da evolução apontada pelos números, a média de doadores segue distante de suprir a demanda de pacientes. Atualmente, conforme o Ministério da Saúde, cerca de 66,2 mil pessoas aguardam na lista de espera por um órgão no Brasil. Trata-se de uma das maiores listas dos últimos 25 anos. No Distrito Federal, são 1.260 pessoas aguardando por uma doação voluntária.
Especialistas afirmam que a recusa familiar é o maior obstáculo à melhoria dos índices de transplantados. A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) estima que praticamente metade das famílias entrevistadas pelas equipes de saúde rejeitaram doar os órgãos após a morte dos potenciais doadores. Entre as justificativas mais comuns, estão a incompreensão sobre a morte encefálica, questões religiosas e a rejeição em esperar por um prazo maior para entrega do corpo.
Para Gaída Dias, é muito importante falar para a família que deseja ser um doador de órgãos, para que após a sua morte, esses possam autorizar a doação e retirada dos órgãos e tecidos. “Às vezes, não temos essa dimensão. E, quando estávamos consumidos pela dor, nossa mente paralisa. Nem todo mundo consegue pensa nessa atitude”, pontua.
Gaida diz que ao conseguir doar os órgãos de Maria Sofia sentiu alivio, alegria, consolo. “São vários sentimentos bons. E quero abraçar essa causa para mostrar quando a gente morre, mesmo sem “vida”, ainda podemos doar esperança para salvar outras pessoas que estão na fila de um transplante. Desde sempre, nossa família tem essa cultura da doação de órgãos. Quando soubemos que Sofia precisaria de fígado, deu primeiro start. Não imaginaríamos que, nas 48h após transplante, ela iria morrer. Mas, quando recebemos essa triste noticia, imediatamente, me veio esse desejo e confirmação no coração”, lembrou Gaida emocionada.
A mãe de Maria Sofia pede para que curtam as pessoas que amam, digam que amam e se declarem. “Não guardo nenhum arrependimento por não ter dito quanto eu amava Sofia. Nós tínhamos uma brincadeira de dar um abraço acochado de um minuto todos os dias. E dizer te amo era algo constante. Sou muito grata e feliz por ter convivido com Sofia. Ela me ensinou muito, Sofia sempre foi determinada e batalhava por todos as conquistas dela. Sempre sonhei com Sofia, ela foi um sonho e sonharei com ela sempre.”
Gaida conclui afirmando que, hoje, sua maior missão é levar adiante a importância da doação de órgãos e que está promovendo a campanha para mudar a visão do Brasil sobre o assunto