Este ano, a Bienal Internacional de Dança do Ceará chega à 14ª edição e, novamente, realiza no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, complexo cultural da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, uma programação impactante e inteiramente gratuita, com sete espetáculos de artistas e coletivos nacionais e internacionais. As apresentações acontecem entre 31 de março e 7 de abril, às 19h, no Teatro Dragão do Mar, exceto o espetáculo de encerramento, que será iniciado às 21h, sempre com ingresso mediante retirada virtual de convite na página da Bienal na plataforma Sympla, limitado a dois acessos por pessoa. O link também está disponível no site e no perfil da Bienal no Instagram: @bienaldedanca.
Sobre os espetáculos
Abrindo a programação, no domingo (31), Brunno de Jesus (Bahia) performa “SAMPLE: é que nem cortar quiabo”, solo que reverencia a memória de danças que deixaram rastros e se transformam em outras danças e homenageia artistas das danças negras, como Mestre King, Marilza Oliveira, Jorge Silva, Vania Oliveira, entre outros. Livremente inspirado no maculelê, dança dos orixás e na interação sonora com o público, o artista provoca quais danças dos nossos mais velhos compõem nossas camadas de memórias. “Samplear essas danças é dançar a sua dança memória”, argumenta.
Na terça-feira (2), o pernambucano Jorge Garcia, um dos mais conceituados e requisitados coreógrafos brasileiros da atualidade, volta ao Ceará para apresentar “Estudos para Quimera”, seu novo trabalho, criado em parceria com a bailarina argentina Irupé Sarmiento. “Estudos para Quimera” é o primeiro processo de pesquisa dos bailarinos para a criação do espetáculo “Quimera”, que reflete sobre os tempos em que vivemos, onde o horror e o absurdo são naturalizados. Situações que se misturam em um diálogo ilusório num lugar vazio onde tudo é possível. Onde a ilusão e a devastação se misturam de forma sutil e orgânica. No dueto, é possível ver Jorge García e Irupé Sarmiento, dois intérpretes de reconhecidas carreiras profissionais nacionais e internacionais, num diálogo paradoxal entre dois universos completamente diferentes numa conexão e sintonia fina que leva os corpos aos seus limites, mostrando assim suas vastas experiências artísticas, corporais, técnicas e criativas.
Na quarta-feira (3), é a vez de Edvan Monteiro (Ceará/São Paulo) apresentar “O Chamado da Jandaia”. Projeto fomentado pelo Programa Funarte Retomada 2023 – Dança -, a ação artística consiste na chegada de um indígena que vem do ano de 2542 dentro de um processo de futuro e passado, atendendo a um chamado do presente, com o objetivo de encontrar seus parentes e com isso ele se depara com um mundo sendo destruído pelas invasões, seguido pela destruição das florestas, dos rios, com a extinção dos animais, a exploração dos minérios dentro da terra e nos mares, a exploração do céu na tentativa de habitar outros planetas, guerras por recursos devido a alta população mundial provocada pela centralização nas mãos das grandes corporações, causando enormes tragédias humanitárias e também planetária. Que recursos ancestrais utilizamos para uma grande retomada, as encantarias, as memórias ou o PRESENTE? Através da construção do mapa cósmico (GPS indígena) ali desenhado em pedras no chão, o artista vai na busca de se reconectar consigo mesmo em sua ancestralidade iniciando então a sua diáspora, procurando pelos parentes, guiado pelos céus, pelas forças da natureza e acompanhado pelo chamado do pássaro Jandaia. Todo o processo dessa performance é uma busca de construir uma mensagem direta com o público, fazendo com que o espectador embarque nesse movimento, na dor, na força do organismo vivo se adaptando ao ambiente violado.
Na quinta-feira (4), em “After Slows”, a Cie. Aurelia (França) e Rita Cioffi (Itália) trazem à cena corpos que já experimentaram diversas danças, como corpos de arquivo que já dançaram durante muito tempo. Guardiões de um pedaço da história da dança que passou por eles. Depois de tantos anos de experiência, que abandono é ainda possível? Que desejo? Que desconhecido? Que confronto entre memória e imaginário? Que negociação com um corpo em mudança? Perante um tempo que passou tão depressa, tendo experimentado o sabor da conquista e da perda, como resistir ao fatalismo da renúncia? Fazer vibrar os sentidos? Manter viva a alegria subversiva da dança? Diz-se muitas vezes: o que é que se segue?
Na sexta-feira (5), Laura Samy e Alice Poppe revisitam figuras dos solos “Dança Macabra” (2016) e “Máquina de Dançar” (2014), respectivamente, que têm em comum o gesto de debruçar-se sobre si mesmas. Em “Cravo” (2021), o gesto é ressignificado em sua delicadeza e brutalidade. O deslocamento é inevitável. A imagem de uma estrada evidencia o traçado que as une em tempos e lugares distintos. No limiar entre a ficção e a realidade, avançam lado a lado, movidas por sentidos que decorrem das guerras, dos sonhos e de suas memórias. A criação surge do encontro das dançarinas em diálogo com a linguagem cinematográfica, de modo a revelar, através das noções de profundidade, plano, contra plano e corte, variadas possibilidades expressivas do gesto dançado. Inspirada em clássicos da música, da literatura e do cinema, a cena tensiona a tradição e a contemporaneidade.
No sábado (6), a Cie. Gelmini em parceria com a Cia. Híbrida (Rio de Janeiro) apresentam “Pulso”, espetáculo que desloca representações à medida que o bailarino em cena e o bailarino em tela se atravessam entre gestos e consciências, produzindo estados de presença entre o bruto e o tempo em suspensão. A pulsação, a menor e mais constante unidade de ritmo, a mais indescritível para a montagem de um filme e de corpos em movimento. Quando se trata da redução do ritmo, poderia ser o pulso que nos conecta ao momento presente, que nos permite escutar nossos corpos e compreender nossa vulnerabilidade como uma forma de potência? “Pulso” é o sexto espetáculo da Cie. Gelmini e a terceira parceria com a Cia. Híbrida. Ele foi realizado em residência artística entre França e Brasil, tendo estreado em 2023 no Teatro do Oprimido de Paris e no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro pelo Dança em Foco.
Encerrando a programação no Dragão, “Percursos de Criação” reunirá, no domingo (7), às 21h, um elenco de seis artistas cearenses em um processo colaborativo, criativo e afetivo disparado pelo coreógrafo Marcelo Evelin. Silvia Moura, Claudia Pires, Bilica Léo, Graça Martins e Claudio Bernardo, artistas experientes e reconhecidos em nível nacional e internacional, se lançam na construção de uma partitura dançada por um feixe de indivíduos dançantes, que há muito tempo dançam como quem deixa rastros pelo mundo.
Programação
31 de março (domingo)
19h – “SAMPLE: é que nem cortar quiabo”, de Brunno de Jesus (Bahia)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (www.sympla.com.br/evento/sample-e-que-nem-cortar-quiabo-brunno-de-jesus-bahia/2375226). Duração: 40 min. Classificação: 14 anos
2 de abril (terça-feira)
19h – “Estudos Para Quimera”, de Irupé Sarmiento (Argentina) e Jorge Garcia (Pernambuco/São Paulo)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/estudos-para-quimera-irupe-sarmiento-argentina-e-jorge-garcia-pernambuco-sao-paulo/2375252). Duração: 50 min. Classificação: 18 anos
3 de abril (quarta-feira)
19h – “O Chamado da Jandaia”, de Edvan Monteiro (Ceará/São Paulo)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/o-chamado-da-jandaia-edvan-monteiro-ceara-sao-paulo/2375261). Duração: 60 min. Classificação: Livre
4 de abril (quinta-feira)
19h – “After Slows”, de Cie. Aurelia (França) / Rita Cioffi (Itália)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/after-slows-cie-aurelia-franca-rita-cioffi-italia/2375288). Duração: 30 min. Classificação: Livre
5 de abril (sexta-feira)
19h – “CRAVO”, de Laura Samy (Rio de Janeiro) e Maria Alice Poppe (Rio de Janeiro)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/after-slows-cie-aurelia-franca-rita-cioffi-italia/2375288). Duração: 40 min. Classificação: 18 anos
6 de abril (sábado)
19h – “Pulso”, da Cia. Gelmini em parceria com a Cia. Híbrida (Rio de Janeiro)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/pulso-cia-gelmini-em-parceria-com-a-cia-hibrida-rio-de-janeiro/2375314). Duração: 30 min. Classificação: 14 anos
7 de abril (domingo)
21h – Percursos de criação – “AINDA NÃO” Marcelo Evelin (Piauí) com Bilica Leo (Ceará), Cláudia Pires (Ceará), Cláudio Bernardo (Ceará/Bélgica), Graça Martins (Ceará) e Silvia Moura (Ceará)
No Teatro Dragão do Mar
Acesso gratuito mediante retirada de ingresso na plataforma Sympla Bileto (https://www.sympla.com.br/evento/percursos-de-criacao-ainda-nao-marcelo-evelin-piaui/2384049).
Sobre a Bienal
Apresentada pelo Ministério da Cultura, Governo do Estado do Ceará, Enel Distribuição Ceará e Petrobras, por meio do programa Petrobras Cultural, a XIV Bienal Internacional de Dança do Ceará é uma realização da Indústria da Dança, tendo como patrocinadores Cagece, Banco do Nordeste (BNB) e Petrobras, via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Apoio Institucional: Cineteatro São Luiz, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Hub Cultural Porto Dragão, Escola Porto Iracema das Artes, Theatro José de Alencar, Mercado AlimentaCE, Estação das Artes e Secretaria da Cultura do Ceará por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Mecenato). Apoio Cultural: Enel Distribuição Ceará. Este projeto conta ainda com a parceria do Centro Cultural Companhia de Dança de Paracuru, do Sobrado da Abolição /Centro Cultural Eduardo Campos – Pacatuba, da Prefeitura de Itapipoca, da Prefeitura de Trairi e da Prefeitura de Paracuru, sendo realizado por meio do Edital de Apoio a Festivais Culturais do Ceará da Secretaria da Cultura do Ceará, via Lei Paulo Gustavo.