Iguatu : Violeiros mantêm a tradição de fazer cantoria na feira

Blog do  Amaury Alencar
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Pelos menos um sábado, no início do mês, os poetas Carlos Vieira e Zé Viana estão na feira livre da cidade. Eles levam para o público a cultura do repente, o verso de improviso ao som de suas violas afinadas. Diferente de antigamente quando não havia aparelhagem de som, e os cantadores tinham que usar muito a voz, hoje, a tecnologia ajuda e muito como conta o poeta Carlos Vieira. “Antigamente, os cantadores cantavam em cima de uma mesa para serem ouvidos e vistos pelo público. Mas, hoje está bem melhor, a tecnologia ajuda muito a gente, a viola é ligada no cabo na caixa de som, já o microfone faz com que a gente não force muito a voz. E assim é só aumentar o volume que a gente é ouvido de longe pelo público”.

E não demora muito para que o público apreciador ou não dos versos e rimas de improviso se aproxime dos artistas. Quem vai passando dá uma parada rápida, escuta um pouco, acha até graça, bate palmas e segue o caminho. Mas, o melhor é quando deixam alguma ‘nota’ na bandeja. Aí os poetas ficam mais animados. “Tem gente que diz que isso não era mais para existir, era para ter contrato, tipo com artista, banda. Mas não, a gente mantém essa tradição de deixar a bandeja porque é daqui que a gente ganha uma renda que ajuda em casa. A gente vai vivendo de outras coisas. Infelizmente não dá para viver só dessa arte. Mas têm grandes nomes da nossa categoria que vivem bem, conseguiram crescer nessa arte”, comenta Vieira.

Entre um verso e outro, os cantadores vão cantando e contando histórias. “A gente tem que se atualizar todos os dias, escutar rádio, assistir jornal, mas hoje a internet ajuda muito. É bem mais fácil pra gente falar do mundo. O que acontece do outro lado do mundo, não demora muito e a gente já está sabendo por aqui e assim vai. O cantador fala de tudo”, comentou o experiente repentistas Zé Viana.

Terra de cantadores

Iguatu é um município de cantadores que são muito respeitados. Entre esses Lourival Pereira, Paulo Nascimento, Chico Alves e seus filhos Jonas Bezerra e Joás Rodrigues, além dos que adotam Iguatu, entre eles Cícero Cosme, poeta natural de Aurora. “Tem muita gente boa por aqui. Eu comecei a gostar de viola desde criança, a gente cresceu ouvindo os programas de violeiros nas rádios, era muito bom. Tinha também as cantorias, antigamente eram mais na zona rural, nos sítios, mas hoje as cidades é que acontecem mais cantorias, festivais. Isso é bom, porque possibilita o acesso para quem não conhece essa arte, essas pessoas novas e traz o público que gosta. Entre esses eventos o Sesc promove o tradicional festival e leva também cordelistas e repentistas para o abrigo com o projeto Sesc na Feira”, pontuou Carlos Vieira.

Carlos começou a tocar viola assistindo a uma cantoria que teve a participação do poeta Chico Alves. “Eu fui para essa cantoria, deixei uma oferta e pedi para tocar com eles. No final da apresentação, eles deixaram e foi a primeira vez que tive acesso a uma viola. Eu tinha um violão azul que tinha recebido em um negócio, troquei as cordas e transformei numa viola. Depois consegui uma viola de verdade. Tem uma diferença entre viola e violão. A viola são 10 cordas, o violão são seis, fora os tipos de cordas e a posição delas”, explicou Vieira.

Persistência e prática diária

Para os poetas, é preciso muita persistência e prática diária para manter a poesia e o repente de viola de improvisação pelos versos narrados que encantam o público. Os motes e inspirações são muitas para que o cantador siga na resistência de manter ainda viva essa cultura tão antiga.

A cantoria de viola é herança da tradição medieval ibérica, e uma das mais antigas manifestações da cultura popular nordestina. O repente pode ser considerado um gênero textual, que utiliza versos improvisados vivenciados pelos poetas populares a partir da escolha de um tema. “São mais de 80 modalidades, tem as mais conhecidas, entre elas o martelo, as sextilhas, uma modalidade criada pelo nosso poeta Jonas Bezerra, matuto do pé rachado e por aí vai. Lembrando grandes nomes da cantoria Geraldo Amâncio, Louro Branco, entre outros tantos que fizeram e fazem dessa arte muita história”, ressaltou Carlos Vieira.


                                                     Jornal  a Praça 

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