Aventura: artista cearense viaja com esposa de Fortaleza a Argentina em Motorhome

Blog do  Amaury Alencar
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Cerca de 31.229 km rodados, 135 apresentações realizadas em 166 cidades de cinco países: Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai. Assim foram os dois últimos anos dos artistas circenses que compõem a companhia Laguz Circo e Teatro: Felipe Abreu Pereira, natural de Fortaleza, e Romina Sanchez, da Argentina. Essa jornada, intitulada de “Travessia Ceará – Patagônia”, durou cerca de dois anos e ocorreu a bordo de uma Kombi adaptada como motorhome. O destino? A Patagônia, local onde Romina já viveu. Entretanto, a viagem foi além, tendo como destino final Ushuaia, a Terra do Fogo, conhecida como “o fim do mundo”.


A ideia de explorar a Patagônia não surgiu de forma repentina. Em 2015, o casal já havia realizado uma viagem de carro, partindo de Florianópolis e chegando a Fortaleza, a bordo de um Fusca. Uma viagem que durou nove meses. Na época, Felipe sugeriu que o próximo desafio fosse ainda maior, ir até a Argentina, mas desta vez em uma Kombi. O sonho foi guardado por sete anos, enquanto o casal se estabilizava em Fortaleza e se dedicava ao trabalho.

Em 2018, os artistas compraram uma Kombi, modelo 2012, para facilitar a produção de espetáculos. No entanto, foi a pandemia que trouxe a reflexão necessária para tirar o sonho da gaveta. Com o setor cultural paralisado por mais tempo que outros segmentos, a dupla encontrou no Parque Adahil Barreto, em Fortaleza, um espaço para realizar apresentações ao ar livre, seguindo todos os protocolos de segurança. As apresentações “ao chapéu” se tornaram a fonte de renda que permitiu o investimento na transformação da Kombi em um motorhome.


A ajuda do público foi fundamental. Além das apresentações, o casal lançou um financiamento coletivo que permitiu a compra de um reboque, que serviu para o transporte dos equipamentos, enquanto a Kombi servia de veículo e, ao mesmo tempo, moradia. Para dar mais autonomia, o automóvel passou a contar com uma placa solar, que foi doada pela empresa 3E Soluções.

Viagem e desafios
Com o motorhome pronto, Felipe e Romina partiram com o objetivo de levar seu trabalho artístico, incluindo dois espetáculos e oficinas de formação em artes circenses e palhaçaria, a novos públicos. A viagem, inicialmente prevista para durar um ano, se estendeu por dois. O ritmo foi ditado pela necessidade de trabalhar para seguir em frente, além do desejo de vivenciar plenamente cada lugar.
Durante a jornada, os desafios foram constantes. Para a viagem, os artistas fizeram um desapego completo, devolvendo a casa alugada e vendendo ou doando todos os pertences. Sem um lugar fixo para chamar de casa, a vida foi se desenrolando na estrada, adaptando-se ao espaço limitado da Kombi. Embora esse estilo de vida tenha suas recompensas, também há desafios. Em lugares frios, por exemplo, o espaço reduzido se tornou um incômodo e a falta de um banheiro interno demandou uma constante busca por alternativas.
A pré-produção foi essencial para garantir apresentações e, quando centros culturais ou secretarias de cultura não estavam disponíveis, os campings se tornaram uma alternativa viável. Em troca de hospedagem, o casal realizava apresentações e passava o chapéu, uma prática muito antiga feita por artistas itinerantes, de contribuições espontâneas e valorização do trabalho artístico.

Aventureira
de quatro patas
Toda a jornada rumo à Patagônia foi percorrida na companhia da Lamparina, cachorrinha dos artistas, que os acompanha desde os dois meses de idade. Atualmente com 9 anos, a aventureira de quatro patas já explorou diversas regiões do Brasil com os seus tutores e, nesta viagem, teve seu passaporte carimbado no Uruguai, Paraguai, Chile e Argentina. Durante os espetáculos, ela ficava dentro da Kombi e teve que se adaptar ao clima, usando, inclusive, roupas próprias para enfrentar o frio.
Romina conta que um dos momentos mais memoráveis da viagem ocorreu quando o casal conseguiu uma permissão especial para que Lamparina embarcasse no “Trem do Fim do Mundo”, uma atração que normalmente não aceita cães. “Neste dia, um vagão foi liberado para que Lamparina aproveitasse o passeio com a gente. O staff do trem ficou encantado com a sua presença e quis registrar o momento inusitado com fotos”, conta.

Olhando para o futuro
No futuro, os artistas planejam explorar novas oportunidades, que os permitam continuar viajando e apresentando seus espetáculos de forma mais estruturada, obtendo apoio por meio de editais e subsídios. Isso porque, no percurso dessa viagem, tiveram desafios burocráticos. “Atualmente, as oportunidades de apoio são limitadas a alguns formatos, como sedes do SESC e instituições culturais locais em regiões que visitamos, muitas cidades não possuem secretarias de cultura eficazes, ou elas estão sobrecarregadas com outras funções, como esportes. Isso dificultou a realização de nossos projetos em locais onde a cultura não era prioridade”, explica Felipe.
Após a jornada, Romina e Felipe também chegaram à conclusão sobre a necessidade de aventuras como essa, que busca levar a arte para outros públicos nos mais diversos locais do Brasil e até de outros países, possam ter apoio do poder público. “A partir desta experiência, vimos que é preciso que haja editais específicos para artistas itinerantes, que não exigem comprovante de residência e que possibilitem a continuidade do trabalho mesmo em cidades pequenas”, comenta Romina.

Por Ismael Azevedo

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