Fortaleza: De jardineiro à vendedor de lanche, a história de luta e batalha de José Evandro

Blog do  Amaury Alencar
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A trajetória do povo cearense é marcada por muita luta e suor, faz parte da nossa essência ter garra para correr atrás do que deseja. A história do seu José Evandro, 70, é uma dessas histórias de batalha de muitos que moram em Fortaleza.
“Eu via meus pais, mais e os meus irmãos trabalhando na roça, para dar de comer e tudo e às vezes ainda faltava. Aí eu digo ‘não, eu tenho que sair’. Vim para Fortaleza exatamente para ajudar eles e eu ajudei no que pude”, conta seu Evandro.
Seu Evandro chegou a capital cearense em 1972, há mais de 50 anos trabalha para se sustentar e prover o que pode para a família. Durante os anos 1970, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi oficialmente consolidada causando a expansão urbana, principalmente pela intensa migração do interior para a capital.
Com a expansão urbana da cidade e a alta procura por empregos, a mão de obra era barata, José fala como foi seu primeiro emprego na capital. “Sabe quanto eu ganhava na época? O salário mínimo era 160 cruzeiros [moeda da época]. Sabe quanto eu ganhava? 60 [cruzeiros]. Mas eu tinha roupa, eu tinha calçado, porque dormia onde eu trabalhava. Meu primeiro emprego, jardineiro. Trabalhei, juntei dinheiro, comprei casa e ajudei meu pai e minha mãe”.
Mas esse não foi seu único emprego, durante todos esses anos, seu Evandro já fez um pouco de tudo na vida. Apesar de hoje em dia já ser aposentado, ele ainda trabalha como vendedor de lanches e tem um pequeno comércio em casa.
Sua rotina começa cedo, às 4 horas da manhã, quando começa a preparar os lanches, caldos, sucos e café. Já com uma clientela fixa, seu Evandro faz sucesso com seus lanches na parada de ônibus e nas vendas de porta a porta.
“Eu já vendo lanche aqui há 14 anos. Aqui eu fico até quinze pras nove [seu local fixo na parada de ônibus], daqui eu vou para a Dom Luiz, ai, lá é porta a porta. Eu faço salgado, caldo, suco, café. Tudo sou eu”.
Para garantir a qualidade das suas comidas, ele fala que assim que termina o seu serviço já se prepara para o outro dia, sempre tentando pegar os produtos mais frescos para poder trabalhar. “Eu chego aqui 6h15, mais ou menos, quando saí daqui, para a Dom Luís é 9 horas. Mas quando chego em casa já é meio-dia, porque já vou comprando objetos para trabalhar no outro dia, porque eu trabalho com produtos bem frescos praticamente do dia”.
Uma das suas clientes mais frequentes, Natalia Cardoso, fala sobre a confiança em consumir os lanches do seu Evandro e como ele é cativante. “Eu já conheço ele há mais de 6 anos, já sou cliente frequente. Seu Evandro é bem conhecido aqui pelo lanche que ele faz, o lanche dele é muito gostoso. Ele só faz lanche do dia, não é de um dia para o outro, ele é muito cuidadoso com as coisas dele, então ele cativa os fregueses dele por isso”.
É quase certo dizer que seu José Evandro tem um dedinho em quase tudo de Fortaleza, antes de ser vendedor de lanches ele trabalhou de carteira assinada por 30 anos, já trabalhou com capatazia no cais do porto, foi porteiro, coveiro em um cemitério no centro da cidade e na trabalhou na construção do shopping Riomar. Se Evandro diz sente muito orgulho da sua trajetória. “Tem pessoas que têm vergonha de dizer o que fez. Eu não tenho vergonha, eu teria vergonha de dizer o que eu fiz de ruim”.
No meio de tantos empregos, seu Evandro arranjou um tempinho para ser técnico de futebol em um time de bairro. “Eu tinha um time de subúrbio, era o Barcelona do Papicu”. Entre uma de suas lembranças mais queridas da época que foi treinador, foi quando conheceu os jornalistas Silvio Carlos Vieira e José Raimundo Costa.
“Eu conheci um jornalista muito especial na minha vida, que conversava com a gente na rodinha, era Sílvio Carlos e José Raimundo. Foi em 1982, que na época estava acontecendo a taça Edson Queiroz, nós fomos para o Castelão, fizemos aquela festa maravilhosa. Foi muito bom, e eu que botava os jogadores para jogar”. Comentou seu Evandro sobre a época.
Mas esse não foi seu único contato com o jornalismo, ele fala de que uma, enquanto trabalhava de coveiro, foi pego de surpresa por uma equipe de televisão enquanto dormia em uma das lápides. “Eu estava fazendo um trabalho lá no cemitério do centro, e chegou lá de repente uma reportagem e eu estava deitado em cima do túmulo. Tinha passado a noite todinha trabalhando para deixar tudo limpinho. Era dia de Finados e eu tinha que entregar o túmulo pronto para o pessoal do Farias Brito”.
Apesar de toda sua luta e realizações, seu Evandro ainda tem um sonho de abrir a própria lanchonete. “Eu ainda vou abrir uma lanchonete para mim. É o meu sonho”. Trabalhando desde os 17 anos, ele pensa em um dia parar, mas que seja somente quando sentir que não pode mais pedalar a sua bicicleta.
“Eu peço muito a Deus que, se eu parar, quando eu ver que não tenho mais condição de pedalar mais. Ai, sim, eu sou teimosão, porque já levei queda, fui atropelado. Isso aqui, meu [ombro], parei o tratamento agora. Eu sou muito feliz na minha vida, graças a Deus, porque nunca precisei pegar nada de ninguém. Sempre gostei de trabalhar, meu forte é trabalhar”. Diz seu Evandro sobre sua aposentadoria.

Por Mariana Freitas

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