O professor e paleontólogo Antônio Álamo Feitosa Saraiva, que é natural do Crato, na região do Cariri, será o primeiro brasileiro a receber a premiação Morris F. Skinner, um dos mais prestigiados prêmios da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados — SVP em inglês —, uma organização com cientistas, estudantes, artistas, preparadores, defensores, escritores e acadêmicos.
O paleontólogo receberá a honraria durante o 84º encontro anual da SVP, que terá início no próximo dia 29 de outubro, com a entrega do prêmio no dia 2 de novembro. O evento ocorrerá em Minneapolis, nos Estados Unidos.
A sociedade tem como objetivo apoiar e incentivar a descoberta, a conservação e a proteção de fósseis de vertebrados e sítios de fósseis; promover a ciência da paleontologia; atender interesses comuns, dentre outras ações.
O paleontólogo de 63 anos conta que desde a infância sempre foi muito curioso em relação à ciência. “Eu era um pouco 'menino maluquinho', gostava de querer ser cientista. Achava que era operar lagartixa, fazer coleção de bichos e olhar a natureza.”
Ele relata que, por influência do pai e do avô, que tinham uma criação de gado, seus heróis de infância eram os vaqueiros. ”Quando perguntavam pra mim, até os 14 anos, o que eu gostaria de ser, eu respondia: ‘Eu quero ser vaqueiro’.”
O professor relata que encontrou na biologia o que realmente gostava e tinha curiosidade em saber. “Ainda hoje eu me considero como um 'menino maluquinho'.”
Premiação nos Estados Unidos
Em relação à premiação, o professor Álamo destaca que ficou surpreso ao receber a notícia. “Concorri com dois colegas de profissão que são reconhecidos no mundo todo. Ter recebido esta homenagem foi uma coisa que me deixou muito surpreso e feliz.”
“Apesar disso aqui ser o meu divertimento, foi um trabalho feito com muita seriedade. Sabemos como é a pesquisa no Brasil. Nem sempre você tem dinheiro pra isso. Às vezes é preciso tirar dinheiro do bolso para manter os estudantes em campo, essa coisa toda”, diz ele.
O paleontólogo acredita estar no caminho certo e comenta sobre a repercussão do prêmio a nível nacional e regional: “Eu sei que no Brasil fazer ciência não é muito fácil. Meus pares e todos aqui me dão os parabéns e estão todos muito felizes”.
“Biologia é campo. Além de estudar muito, biologia, como o próprio nome já diz, é o estudo da vida (...) Você tem que ter aquela curiosidade de menino, você tem que pegar nos espécimes e ver a natureza. Casando a sala de aula, o campo e o laboratório, você será um biólogo completo”, aconselha ele.
Cariri é região propícia para formar novos paleontólogos
O professor conta que a Bacia do Araripe, localizada a oito horas da Capital, é uma janela aberta para o cretáceo. Segundo ele, na região já foram descritas mais de 300 espécies de artrópodes, mais de 100 espécies de plantas.
“É o lugar que mais se descobriu pterossauros, peixes (...) Mas, se você for olhar, ninguém fez nada ainda. Aqui tem muitas e muitas espécies a serem descritas, é um ambiente propício para você formar novas gerações de paleontólogos.”
O professor já tem tempo de aposentadoria, mas não pretende fazer isso. “Tenho 63 anos, sou daquele regime antigo. Quando você vai olhar o tempo de trabalho e contribuição, passam de 108 anos.”
Ele continua: “Mas eu não penso em me aposentar, porque eu não trabalho, eu me divirto. Isso aqui continua sendo meu playground. Espero ainda descrever muitas espécies e publicar bons trabalhos”.
Seu novo projeto é sobre as mortandades da formação Crato. “É um levantamento estatístico explicando o porquê que existiam essas mortandades antes da fase marinha.”
o Povo