A passagem do Padre Vieira é emblemática e permanecerá para sempre na memória de Icó. Suas homilias, ora de alto nível intelectual, ora corajosas e inquietas, marcaram época.
A história relata que, antes de sua chegada, os primeiros bancos da tricentenária Igreja de Nossa Senhora da Expectação, a Matriz e marco zero de Icó, datada de 1709, eram reservados para a esposa do então prefeito e suas filhas, garantindo à elite local um lugar de destaque, em detrimento dos demais.
Contudo, Padre Vieira quebrou essa tradição, democratizando o acesso aos assentos. Era um homem do povo, que caminhava pelas ruas e bebia todas em companhia de amigos e devotos do Senhor do Bonfim.
Além de sua atuação religiosa, Padre Vieira teve uma trajetória política marcante. Ele se tornou Deputado Federal, mas sua carreira foi brutalmente interrompida pela ditadura militar, que o cassou.
Mesmo assim, sua voz jamais foi silenciada. Por anos, escreveu para as páginas do jornal O Povo, onde seus contos e crônicas eram publicados sem que seu nome aparecesse no rodapé, em um gesto de resistência silenciosa.
Tive a oportunidade de presenciar suas últimas aparições em Icó. Uma delas foi no lançamento de seu último livro, realizado no Calçadão do Teatro da Ribeira dos Icós, datado de 1860.
Em outra ocasião, recebeu o título de cidadania icoense e, pela primeira vez, fez um discurso lido – um desabafo público, forte e lúcido. Infelizmente, guardei-o e o perdi.
Em suas palavras, ele mencionou um hospital público que foi desviado para a região do Vale do Jaguaribe e falou sobre o trem que nunca passou por Icó, pois traria apenas cobradores de impostos para visitar os comerciantes locais, e suas pesadas linhas de ferro.
Também abordou vidas perdidas, roubadas pela violência, os tempos áureos e muitas histórias ainda não contadas ou completamente esclarecidas até hoje.
Padre Vieira seguirá imortal, na memória e nos corações daqueles que tiveram o privilégio de ouvir sua voz e acompanhar sua jornada.
Por Fabricio Moreira