Ceará pode ter pelo menos três portos secos no caminho da Transnordestina, um deles, em Iguatu

Blog do  Amaury Alencar
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Ao longo dos 608 quilômetros (km) da Ferrovia Transnordestina que passam pelo território cearense, serão construídos pelo menos três estruturas conhecidas como portos secos. É o que garante o governador Elmano de Freitas em entrevista exclusiva para o Diário do Nordeste.

Tem previsão de porto seco no Cariri, para o lado de Missão Velha; tem o de Quixeramobim; e Senador Pompeu tem proposição de um porto seco. Inclusive, já para acontecer, para fornecimento de matéria-prima para o polo calçadista cearense.

Porto seco nada mais é do que a mesma estrutura existente em portos marítimos (a exemplo do Pecém) e fluviais (como o de Manaus), incluindo operação alfandegária e incentivos fiscais.

Em vez de estar ligado a um modal aquático, como embarcações, está instalado dentro do continente, completamente cercado por terra. Em geral, está associado com modais rodoviários e/ou ferroviários.

Essa é a situação dos três portos secos revelados por Elmano de Freitas. Os três serão instalados em municípios do interior cearense, longe de porções de água. Em comum, as três estruturas estão no caminho da ferrovia Transnordestina, em construção há 18 anos e que atualmente avança em obras no Sertão Central do Estado.

Dos três, o projeto mais avançado é o de Quixeramobim. A linha férrea até o município, onde se localiza o Centro Geográfico do Ceará, ainda está em construção, mas um porto seco com investimento de R$ 650 milhões será construído pela multinacional brasileira Value Global Group.

Na sequência, a situação mais consolidada é em Missão Velha, no Sul do Estado e primeiro município pelo qual a Transnordestina passa no território cearense. Em abril deste ano, o próprio Governo do Ceará desapropriou um terreno para a instalação de um Terminal Multimodal de Cargas. As informações foram publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE).

Em entrevista exclusiva para o Diário do Nordeste em agosto deste ano, Tufi Daher Filho, presidente da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), companhia responsável pela construção da linha férrea, afirmou que havia tratativas em conjunto com representantes do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) para a instalação de um terminal em Missão Velha, mas sem definição sobre qual será o tipo da estrutura a ser instalada no município.

A ideia inicial era que esses pontos fossem itinerantes, isto é, não fossem estruturas necessariamente fixas a um determinado local, como os portos secos. Na ocasião, Tufi Daher informou serem terminais intermodais "para descarga de produtos, principalmente grãos. Pode ser um terminal itinerante. Se tivermos condição de montar pequenos em Iguatu e Quixadá, um maior em Quixeramobim, assim vamos fazer".

Outra cidade que vai ganhar um porto seco, conforme Elmano de Freitas, será Senador Pompeu, a pouco mais de 50 km de distância de Quixeramobim, que vai ganhar uma estrutura do tipo da Value Global Group.

O município é reconhecido no setor industrial cearense, assim como demais cidades do Sertão Central, por ser um importante polo calçadista. Vale lembrar que o Ceará foi o maior produtor de calçados do Brasil em 2023, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), produzindo aproximadamente 225 milhões de pares.

É importante ressaltar que o governador Elmano de Freitas não deu prazo para o início das operações dos três portos secos. Segundo contrato assinado entre a Value Global Group e a TLSA, a estrutura de Quixeramobim entrará em operação no primeiro semestre de 2026. A ferrovia deve ser concluída no Ceará até junho de 2027.

Foco na exportação
Com essas estruturas reveladas por Elmano de Freitas, o Ceará passa a contar com cinco portos oficiais para a exportação de mercadorias. Além dos três no interior do Estado, atendem o território cearense Pecém e Mucuripe, ambos localizados na Região Metropolitana de Fortaleza.

Na análise do governador, os portos secos da Transnordestina vão permitir que sejam feitas "indústrias especialmente para exportação" no território cearense. Vale lembrar que a ferrovia levará a produção do interior de Piauí, Pernambuco e Ceará para o Porto do Pecém, principal porta de saída de mercadorias do Estado.

"Estamos de olho nisso, setores que podem ter exportação, de se instalarem no Ceará próximo da Transnordestina para ter um ganho de logística. É vantagem enorme, um trem que transporta 240 carretas tem uma redução de custo de logística muito alta", argumenta Elmano.

O diretor de negócios da Petite Jolie e da Aniger Calçados, Leandro Winter, empresas que têm três plantas fabris no Ceará, dentre elas uma em Quixeramobim, avalia como positiva a instalação de um porto seco no município, principalmente em virtude da desburocratização.

O Ceará já é líder nas exportações de calçados. O passo que acontece com a chegada do porto seco é muito positivo para a indústria. Facilita o acesso de importações de insumos específicos e equipamentos, como dá velocidade e competitividade para a exportação, e traz investimentos de diferentes áreas para o Estado todo. Precisamos ver o quão rápida vai ser essa estruturação.

A reportagem questionou a empresa responsável pela construção da ferrovia sobre as novas estruturas ao longo da via-férrea e sobre qual a relação da TLSA com os portos secos.

Indagada sobre a correlação entre a companhia e a construção do porto seco em Quixeramobim, a TLSA afirma que não existe "nenhuma" associação, "a não ser um instrumento firmado para transporte de cargas". A estrutura no município do Sertão Central é de responsabilidade da iniciativa privada.

Nos questionamentos, a empresa declara que "não tem conhecimento" de nenhum terminal de carga e descarga em Senador Pompeu, que segundo Elmano, seria voltado para o setor calçadista. Já sobre a estrutura em Missão Velha, a TLSA admite que estuda a construção de um equipamento no município, mas ainda não há definição de qual tipo e "as tratativas se darão oportunamente com o Governo do Estado".

Outro ponto enfatizado pela empresa é sobre terminais próprios da TLSA no Estado ao longo dos mais de 600 km de ferrovia. A companhia pondera que "ainda não há definição de local para os terminais próprios", uma vez que "isso dependerá da demanda que está sendo mapeada". 

Mesmo sem confirmar os portos secos confirmados pelo governador em Senador Pompeu e Missão Velha, a TLSA descarta que novas estruturas do gênero devem surgir, mas sim terminais intermodais de cargas, modulados para receber produtos de variados tipos ao longo da ferrovia: "Eles serão instalados na medida do surgimento da demanda de carga de cada região", completa a empresa.

Diário do Nordeste

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