O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, decidiu cancelar a viagem que faria à Europa nesta segunda-feira (4/11) para concentrar-se na elaboração das medidas de corte de gastos, em resposta a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mudança de planos foi anunciada pela assessoria do Ministério da Fazenda neste domingo (3), refletindo a prioridade dada à definição de ações domésticas para conter o aumento das incertezas fiscais, agravadas pela alta dos juros no Brasil e pela necessidade de controle da dívida pública.
A decisão ocorre em meio a um momento de tensão no mercado financeiro, que reagiu com inquietação à falta de anúncios sobre o pacote de cortes. A ausência de definições no plano de contenção de despesas vem elevando a preocupação com a sustentabilidade fiscal do país, impactando o valor do dólar, que encerrou a última sexta-feira (1°) com alta de 1,52%, a R$ 5,869 — o maior valor desde maio de 2020, no auge da pandemia. Este salto reflete, além das questões internas, o contexto internacional, com o mercado reagindo à corrida presidencial dos Estados Unidos, onde o candidato republicano Donald Trump desponta como favorito em algumas pesquisas e apostas, aumentando a volatilidade global.
A possibilidade de viagem de Haddad à Europa havia sinalizado ao mercado que o anúncio das medidas fiscais poderia demorar, gerando novas críticas. Especialistas financeiros destacaram a necessidade de uma postura mais presente do ministro em momentos cruciais para a política econômica nacional, dado o atual contexto de pressão cambial e incertezas. A ausência de esclarecimentos sobre o objetivo da viagem ao exterior intensificou essas reações, apontando para uma expectativa do setor financeiro e da sociedade por transparência nas ações da equipe econômica.
A situação lembra um episódio de 2023, quando Haddad também cancelou uma viagem para a China a fim de se dedicar ao desenvolvimento do novo arcabouço fiscal. Na época, o presidente Lula defendeu a permanência do ministro no Brasil para que ele pudesse “anunciar e ficar aqui para debater, para responder, para dar entrevista” — uma orientação que se repete agora, diante da necessidade de presença para dialogar com o Congresso, o sistema financeiro e representantes do setor produtivo sobre os cortes e ajustes fiscais.
Com a permanência de Haddad em Brasília, a expectativa é que o anúncio das medidas de corte de gastos ocorra nos próximos dias, proporcionando ao mercado financeiro e à população maior clareza sobre as estratégias do governo para conter o avanço da dívida pública. A situação reflete o papel essencial do ministro na condução da política fiscal e a importância de uma comunicação efetiva para assegurar a confiança de investidores e o equilíbrio econômico do país.