A inflação no Brasil voltou a pressionar os consumidores mais pobres em outubro de 2024, de acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As famílias com renda domiciliar muito baixa (menos de R$ 2.105,99 por mês) registraram a maior alta acumulada de preços em 12 meses, com taxa de 4,99%. Esse valor supera os 4,34% registrados até setembro e marca a inflação mais alta para esse grupo desde fevereiro de 2023, quando chegou a 5,86%.
Alimentos e energia
A aceleração da inflação para as famílias de renda muito baixa está diretamente ligada à alta dos preços de alimentos e energia elétrica, itens que representam uma parcela significativa de seus gastos. De acordo com Maria Andreia Lameiras, pesquisadora do Ipea, cerca de 25% do orçamento dessas famílias é destinado à compra de alimentos.
A carestia de alimentos foi intensificada por problemas climáticos como seca e queimadas, que impactaram cultivos e encareceram produtos como carnes. Além disso, a estiagem elevou os custos da energia elétrica, embora a melhora nas chuvas e a troca da bandeira tarifária para a cor amarela em novembro possam trazer algum alívio nos próximos meses. “O impacto é muito forte porque a inflação dos mais pobres é composta, em grande parte, por alimentos, energia, gás de cozinha e transporte público. Quando esses itens sobem, a pressão inflacionária é sentida de forma mais intensa”, explica Lameiras.
Enquanto a inflação dos mais pobres acelerou, os consumidores de renda alta (acima de R$ 21.059,92) registraram uma desaceleração. A taxa acumulada em 12 meses caiu de 4,72% até setembro para 4,44% até outubro, a menor entre os seis grupos analisados pelo Ipea. Essa redução foi influenciada pelo alívio nos preços das passagens aéreas, que têm peso significativo no orçamento das famílias de maior renda. A pesquisadora também aponta que o final do ano pode trazer alguma pressão inflacionária para os mais ricos, com a alta sazonal de itens de lazer e viagens.
Impacto por renda
Além das famílias com renda muito baixa, os consumidores com renda baixa (entre R$ 2.105,99 e R$ 3.158,99) acumularam a segunda maior inflação até outubro, com 4,96%. As faixas de renda média-baixa (4,72%), média (4,68%) e média-alta (4,63%) vieram na sequência. Esses dados refletem como a composição da cesta de consumo afeta as diferentes classes sociais. Os mais pobres são mais impactados por itens essenciais, enquanto os mais ricos sentem variações em serviços como transporte aéreo e lazer.
A inflação deve continuar pressionada até o final de 2024, especialmente para os mais pobres, devido à alta sazonal dos alimentos e à influência do dólar elevado em produtos importados. No entanto, a energia elétrica pode trazer alívio com a redução da bandeira tarifária, enquanto o aumento de dinheiro em circulação no final do ano, impulsionado pelo 13º salário, pode elevar a demanda por bens e serviços, gerando novas pressões de preços.
“Vamos ter uma inflação pressionando ainda todas as faixas de renda nos últimos meses do ano, embora os fatores de impacto sejam diferentes entre elas”, conclui Lameiras. Com isso, a disparidade no impacto da inflação continua a evidenciar a necessidade de políticas públicas focadas em mitigar os efeitos da alta de preços, especialmente para os consumidores mais vulneráveis.