Pterossauros e dinossauros, entre outros animais que habitaram a região há milhões de anos, são recriados em animação. A experiência permite que visitantes conheçam, de maneira lúdica, mais sobre o patrimônio paleontológico que o Ceará representa
O Museu da Imagem e do Som do Ceará abre as portas para uma jornada no tempo com a estreia de “Fósseis do Cariri”, um espetáculo imersivo que recria os ecossistemas fossilizados da Bacia do Araripe, um dos mais ricos e importantes patrimônios paleontológicos do mundo. A estreia será no dia 11 de janeiro de 2025, às 18h30, e promete levar o público a uma fascinante viagem ao passado. O MIS-CE é uma instituição que integra a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais (RECE) da Secretaria da Cultura do Ceará, com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte.
A obra é dirigida pelo professor do curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Adriano Oliveira, e produzida pelo Laboratório de Visualizações Interativas e Simulações (Labvis-UFC), em parceria com a Lunart Estúdio de Animação. A apresentação combina tecnologia de ponta, rigor científico e criatividade artística para oferecer uma experiência única de projeção mapeada de alta resolução nas paredes e no piso da sala imersiva do MIS. O projeto conta ainda com o apoio do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, do Núcleo de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (URCA), do Geopark Araripe e da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Com som espacializado e duração de 15 minutos, a atração transportará os visitantes para 100 milhões de anos atrás, no meio do período Cretáceo, quando dinossauros, pterossauros, tartarugas e outras formas de vida habitavam o que hoje conhecemos como a Chapada do Araripe. Porém, mais do que apenas mostrar os animais, “Fósseis do Cariri” recria biomas extintos, com vegetação, animais terrestres e aquáticos da época.
A obra é constituída por vídeos, ilustrações e animações 2D e 3D, exibindo a exuberância dos ecossistemas retratados. Além de se apoiar em pesquisa e em entrevistas, o projeto contou com a consultoria do professor José Xavier Neto, ex-cientista chefe do Ceará de 2019 a 2023. O professor José Xavier Neto tem doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo e pós-doutorados em Biologia Molecular (USP) e em Biologia do Desenvolvimento (Universidade de Harvard).
Chapada do Araripe tem chancela de paisagem cultural
“Fósseis do Cariri” destaca a riqueza de fósseis de dinossauros, pterossauros, peixes e répteis bem preservados que foram encontrados especialmente na Chapada do Araripe, na região do Cariri, no sul do Ceará — declarada recentemente a primeira “Paisagem Cultural do Ceará” pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).
A chancela de paisagem cultural é concedida às porções peculiares do território, que são consideradas representativas do processo de interação do homem com o meio natural. A proposta de salvaguarda deve-se ao fato de a vida e a ciência humana terem imprimido marcas ou atribuído valores únicos à região. O Ceará adotou essa forma de preservar espaços únicos formados em seu território, normalmente conhecidos por portarem uma cultura diversa que não só dialoga, mas faz parte e é fruto do ambiente de forma marcante. A Chapada do Araripe é um importante marco ambiental, paisagístico, mítico e fossilífero que influencia diretamente toda a ocupação e a cultura do seu entorno.
A integridade dos fósseis do Araripe permite estudos detalhados sobre a evolução e a ecologia dos organismos que viveram na região durante o Cretáceo. Esses fósseis têm contribuído significativamente para a compreensão da biodiversidade e das condições ambientais daquele período, oferecendo uma janela única para o passado. Essa riqueza fossilífera faz da Bacia do Araripe uma das dez regiões mais importantes do mundo para a paleontologia.
“O deus Cronos estendeu a mão e parou o tempo aqui na Bacia do Araripe e, entre 100 e 120 milhões de anos, ficou tudo preservado como se o tempo tivesse parado”, explica o professor Álamo Feitosa Saraiva, professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) e membro do Conselho de Administração do Instituto Mirante.
O diretor do MIS, Silas de Paula, destaca que a realização e a exibição da obra audiovisual imersiva “Fósseis do Cariri” são mais um passo significativo para fortalecer a identificação do MIS como um museu STEAM, sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática. A instituição propõe-se a ser um museu do conhecimento, um espaço de educação não formal, no qual este processo se dá por meio da visualidade e da experiência vivida.
Animais em destaque
“Fósseis do Cariri” reproduz 5 dinossauros, 9 pterossauros, 2 crocodilomorfos, duas tartarugas, 16 peixes e mais de 15 espécies de plantas, resultando em um total de mais de 50 espécimes recriados por paleoartistas experientes. Dentre os animais apresentados, destaca-se a especial relevância de alguns deles, como o dinossauro Santanaraptor. O fóssil deste animal encontrado na região permitiu a identificação da espécie. A recriação digital do Santanaraptor é uma forma disponível de a população saber mais sobre este gênero de dinossauro terópode.
Outro que merece destaque é o Ubirajara jubatus. O fóssil deste dinossauro havia sido levado do Cariri de maneira irregular, e permaneceu por quase 30 anos na Alemanha, até ser devolvido ao Ceará em 2023. Atualmente, o holótipo (peça única que serviu de base para a descrição original de uma espécie) está no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri. O importante achado paleontológico é considerado o dinossauro mais antigo da Bacia do Araripe. O retorno de Ubirajara ao Cariri tornou-se um símbolo do esforço do Brasil para recuperar materiais fossilíferos contrabandeados para outros países.
“A Chapada do Araripe é reconhecida mundialmente como uma das regiões mais ricas e importantes para a paleontologia devido à qualidade e à diversidade dos fósseis encontrados ali”, afirma o professor Adriano Oliveira. Ele explica que a Formação Santana, em particular, preserva um verdadeiro tesouro paleontológico. A Formação Santana (subdividida em três membros: Crato, Ipubi e Romualdo) é mundialmente famosa pela grande concentração de fósseis e pelo excelente estado de preservação.
“Há muitos fósseis de dinossauros, pterossauros, peixes, répteis, insetos e plantas com detalhes impressionantes, como tecidos moles preservados. Essa excepcionalidade permite estudos aprofundados sobre a biodiversidade e as condições ambientais do período Cretáceo, contribuindo significativamente para o entendimento da evolução da vida na Terra”, explica o professor Adriano Oliveira.
A narrativa destaca a importância científica desses fósseis, sem deixar de lado o caráter lúdico e cultural, proporcionando uma experiência que emociona e educa ao mesmo tempo. “Queremos que o público saia não apenas encantado, mas também consciente da relevância desse patrimônio e da necessidade de sua preservação”, ressalta o professor.
Profissionais e artistas cearenses
“Fósseis do Cariri” oferecerá imersão total, com projeções 360° em alta definição e recriações digitais fotorrealistas dos ecossistemas cearenses de milhões de anos atrás. A narrativa, lúdica e educativa, mistura arte visual, música original e animações estilizadas para contar a história do patrimônio fossilífero de forma acessível e envolvente. Desenvolvido em motores de jogos avançados, o espetáculo entrega imagens de qualidade cinematográfica e oferece ainda experiência de realidade aumentada. Todo o material foi produzido no Ceará, majoritariamente por cearenses, muitos deles alunos da UFC. A equipe é composta ainda por profissionais de outros estados, sendo a maior parte do Nordeste. A participação massiva de estudantes universitários confirma a vocação do MIS para ser um museu laboratório, que estimula a pesquisa, a inovação e a experimentação, por meio de processos criativos, educacionais e formativos.
Profissionais do interior do Ceará também participaram da produção, como os paleoartistas Matheus Fernandes Gadelha, de Limoeiro do Norte, e Lucas Mateus Viana da Silva, de Tabuleiro do Norte. “Desenvolvemos um projeto que mescla paleoarte com referências culturais e regionais, criando um estilo único. Inspiramo-nos na xilogravura nordestina e no artesanato das garrafinhas de areia colorida, reinterpretando essas tradições de forma criativa e respeitando a precisão científica dos organismos retratados. O resultado é uma obra que harmoniza autenticidade cultural e rigor paleoartístico, oferecendo uma nova perspectiva para o público”, explica Matheus Fernandes.
“Fósseis do Cariri” faz ainda uma homenagem ao compositor e cantor cearense Ednardo, com a utilização de uma versão instrumental original da música “Pavão Mysteriozo”. Lançada em 1974, a canção é até hoje uma das mais famosas do artista.
Direção e desenvolvimento
O professor que dirige “Fósseis do Cariri”, Adriano Oliveira, ressalta que o objetivo principal da obra “foi criar uma ponte entre a ciência e o público, apresentando os ecossistemas do período Cretáceo de forma visualmente impactante e imersiva”. Adriano Oliveira é graduado em Psicologia, com mestrado e doutorado em Teorias e Crítica da Literatura e da Cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou por 10 anos como professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Por meio de projeções mapeadas e animações fotorrealistas, os criadores buscaram recriar os biomas do período Cretáceo, permitindo que os visitantes realizem uma “viagem no tempo” e experimentem como era o Cariri de 100 a 120 milhões de anos atrás. Além disso, foram utilizados elementos lúdicos, como animação 2D inspiradas em xilogravuras e garrafinhas de areia colorida — dirigida pelo diretor, roteirista e produtor de animação 2D e 3D cearense Neil Rezende — e trilhas sonoras regionais. Tudo se somando para captar a atenção de públicos de todas as idades, despertando a curiosidade científica e a empatia pela preservação desse patrimônio natural e cultural.
“A iniciativa também reforça o papel do Ceará como uma referência mundial em paleontologia, promovendo a valorização da Chapada do Araripe e conscientizando sobre a importância da conservação dos sítios fossilíferos. É uma experiência que alia educação, entretenimento e inovação”, ressaltou o professor da UFC.
Adriano Oliveira tem experiência em produção audiovisual para mídias tradicionais e interativas. Desde 2019, é professor do curso de Sistemas de Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará, onde coordena o Laboratório de Visualizações Interativas e Simulações (LABVIS).
Patrimônio natural e atrações complementares
Além da obra produzida para a sala imersiva do MIS CE, o projeto apresentará ainda um documentário de curta-metragem sobre o potencial paleontológico da região e sobre o processo de criação do espetáculo imersivo. O vídeo será exibido frequentemente no painel de led da praça do MIS e disponibilizado nas redes do Museu. Na praça dos MIS, os visitantes poderão, ainda, brincar com o recurso da realidade aumentada. Ao apontar a câmera do celular para os QRcodes que serão exibidos no painel de led, surgirá na tela a imagem 3D, como se os animais estivessem no MIS, sendo possível fotografar e filmar as pessoas perto deles.
Lançamento da obra Fósseis do Cariri
Data: 11/01/2025
Horário: 18h30
Museu da Imagem e do Som do Ceará
Endereço: Av. Barão de Studart, 410, Meireles, Fortaleza-CE
Entrada: gratuita.
Acompanhe a programação: @mis_ceara e https://mis-ce.org.br/