O Custo Brasil: Corrupção Sistêmica como Núcleo da Nossa Ineficiência

Blog do  Amaury Alencar
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 Ledo engano comete os que ainda acreditam que o chamado “Custo Brasil” se

resume à burocracia excessiva, à carga tributária sufocante ou à ineficiência da

máquina pública. Tudo isso existe, é verdade — mas são sintomas, não a

doença. O cerne do problema está na corrupção sistêmica, que corrói as

instituições desde suas fundações, transformando o Estado em um mecanismo

de espoliação disfarçado de legalidade.


Enquanto discute-se simplificação tributária ou cortes de gastos, ignora-se que

o verdadeiro entrave ao desenvolvimento é uma estrutura institucional podre,

onde a desonestidade se veste de juridiquês e prospera em gabinetes com ar-

condicionado. A corrupção não é um desvio ocasional; é um sistema

organizado, que drena recursos, desvia investimentos e perpetua a

desigualdade.

O Círculo Vicioso da Miséria e do Poder

O povo brasileiro, especialmente nas regiões mais pobres, é mantido refém de

uma engrenagem perversa: políticas públicas assistencialistas, quando mal

aplicadas, servem menos para emancipar e mais para alimentar currais

eleitorais. O Nordeste, historicamente negligenciado, não é pobre por falta de

potencial, mas porque a miséria é um negócio lucrativo para certos grupos

políticos.


Dados do IBGE mostram que, mesmo com avanços pontuais, a região ainda

concentra os piores índices de desenvolvimento humano do país. Enquanto

isso, verbas são desviadas, obras superfaturadas e serviços essenciais

negligenciados. O resultado? Uma população dependente de migalhas,

enquanto as elites políticas e empresariais lucram com a perpetuação do

atraso.

A Opacidade das Emendas Parlamentares: Dinheiro Público sem Direção

ou Fiscalização

Outro pilar do Custo Brasil é a falta de transparência e critério na alocação das

emendas parlamentares. Em vez de serem instrumentos legítimos de

redistribuição orçamentária, muitas vezes transformam-se em moedas de troca

política, destinadas a obras superfaturadas, projetos fantasmas ou benfeitorias

eleitoreiras. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), bilhões são gastos


sem planejamento estratégico, privilegiando interesses particulares em

detrimento de demandas reais da população.


A ausência de critérios técnicos permite que recursos sejam direcionados a

localidades não por necessidade, mas por conveniência de aliados do poder.

Enquanto hospitais faltam medicamentos e escolas desabam, verba pública

financia pistas de kart em cidades pequenas ou reformas de praças em

municípios com saneamento básico precário. A recente PEC das Emendas

trouxe mais flexibilidade, mas sem mecanismos rígidos de controle, o risco é

que o dinheiro continue a ser desperdiçado ou desviado, alimentando o ciclo da

ineficiência e da corrupção.

Reformas Superficiais Não Resolvem o Problema Estrutural

O Brasil não precisa apenas de reformas tributárias ou administrativas —

precisa, antes de tudo, de um choque de integridade. Não adianta modernizar

processos se o sistema continua a permitir que corruptos capturem o Estado. É

urgente:


1. Fortalecer instituições de controle, como o Ministério Público e a Polícia

Federal, com autonomia real e recursos adequados.

2. Combater a impunidade, acelerando processos e garantindo que crimes de

colarinho branco tenham penas efetivas.

3. Transparência radical em licitações e contratos públicos, com tecnologia

para fiscalização em tempo real.

4. Educação política e cidadã, para que a população não seja refém de

populismos baratos.


Enquanto não enfrentarmos a corrupção como causa primária do Custo Brasil,

continuaremos enxugando gelo. O preço dessa omissão é pago todos os dias

pelo cidadão que trabalha honestamente e vê seus impostos evaporarem em

esquemas de corrupção. Está na hora de cortar o mal pela raiz.

Francisco Leopoldo Martins Filho

Advogado

Membro Efetivo da Comissão Direito Eleitoral da OAB/CE